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COMO SE ESQUECE ALGUÉM QUE SE AMA?

Não se esquece. E quanto mais se tenta e se diz “ Eu tenho de esquecer” maior se torna a presença dessa pessoa na nossa mente e no nosso coração. Ocupa por vezes mais espaço do que antes, quando namorava ou coabitava connosco. Tanto espaço, que torna impossível que outra pessoa entre nessa esfera e, pouco a pouco, vá adquirindo importância e permanecendo. Porque, inevitavelmente, comparamos. E comparamos não apenas com a pessoa que perdemos recentemente e que pode ter sido o “grande amor”, mas comparamos com todas as outras com quem nos relacionámos intimamente, com aquelas que gostaríamos de nos ter relacionado e até com aquelas outras que povoam o nosso imaginário.


Não se esquece. Aceita-se a existência e a permanência em nós e na nossa memória. Aceita-se o ter sido feliz e aciona-se o mecanismo de reencontrar a felicidade na companhia de alguém. Abre-se a mente para descobrir pessoas e deixarmo-nos levar pelas diferenças que encontramos, entre essa pessoa a última que amámos e todas as outras, que de quando em vez surgem na nossa mente de surpresa e com importância renovada.


O exercício passa por encontrar nas diferenças não pontos de desagrado e afastamento, mas pontos de crescimento e aproximação. Em regra, procuramos pessoas que tenham semelhanças connosco ou que nos complementem, sem se saber muito bem no quê, tão mal nos conhecemos a nós próprios. Pelo menos, que nos complementem no que nos parece óbvio.


O que é interessante é permitirmo-nos abrir espaço a alguém que se apresenta diferente de nós, em pensamento e perspetiva, que nos questiona, nos desafia e até nos incomóda, apesar de nos querer conquistar. Fazer isto sem revisitar todos os que habitam em nós, como quem procura uma aceitação da nova pessoa.


- Sim, eu também ouvia músicas que não gostavas e apaixonaste-te por mim – diz o nosso primeiro amor;

- Sim, eu também tinha manias estranhas e vivemos juntos 20 anos – diz o nosso primeiro casamento;

- Sim, eu também usava coisas que não gostavas e tu amaste-me – diz o nosso mais recente amor.


Depois há que olhar para aquela lista de requisitos, cada vez maior, à medida que temos mais idade e mais experiências. Tornamo-nos mais exigentes e seletivos. Contudo, esquecemo-nos tantas vezes de olhar para essa lista e questionarmo-nos se temos todos esses importantes requisitos que exigimos ao outro.


Primeiro porque um outro assim, terá requisitos semelhantes. Segundo, porque se procurarmos reunir todos esses requisitos que surgem na nossa lista, poderemos não esquecer mas reduzir a importância de quem quis deixar de estar connosco. Por último, porque deixamos de procurar quem nos complemente e passamos a dar a mão a quem nos acompanhe na descoberta de novos horizontes.


E assim, passamos a avançar, primeiro a uma velocidade cautelosa, a seguir ganhando gosto pela velocidade, com os olhos postos na estrada nova e sem olhar pelo retrovisor para ver o que ficou para trás. De forma diferente, estampamo-nos na próxima curva.



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